A colheita da castanha em Portugal decorre, normalmente, entre meados de outubro e início de novembro, com excessão de castanheiros híbridos de origem francesa, cuja época de maturação ocorre um pouco mais cedo, entre finais de setembro e meados de outubro.
Após a colheita, a castanha tem dois destinos principais: o consumo em fresco ou a transformação.
A sua utilização é cada vez mais diversificada, desde a congelação ao do fabrico de diversos tipos de produtos alimentares, como conservas, cremes e purés, farinha de castanha, doces e compotas, cerveja e licores. Por isso, é essencial ter o máximo cuidado na recolha, armazenamento e expedição dos frutos, de forma a serem fornecidos aos compradores em perfeitas condições para que não se depreciem no período pós-colheita.
Manutenção e Apanha
Normalmente, a queda dos frutos ocorre de forma espontânea quando é atingida a maturação, podendo ser facilitada pela ação do vento e da chuva ou até mesmo pelo varejamento dos ouriços. Porém, esta última prática deve ser executada excecionalmente e com o máximo cuidado, de forma a evitar que as castanhas sofram pancadas fortes suscetíveis de as depreciar e tornar mais sensíveis à podridão.
Durante a apanha, é aconselhado proceder-se à separação da castanha por variedade e calibre. Desta forma, os produtos escoados representarão um significativo acréscimo ao rendimento obtido.
A colheita nesta cultura pode ser manual ou mecânica.
Ouriço
Colheita manual
Na colheita manual recorre-se ao uso de luvas para evitar que o coletor se pique nos ouriços. Depois de apanhadas, as castanhas devem ser acondicionadas em sacos de rede, de modo a facilitar o seu arejamento e evitar a ocorrência de fermentações.
A colheita manual é bastante onerosa, correspondendo em média a 50% dos custos de manutenção do souto. No entanto, continua a ser muitas vezes preferida à colheita mecânica quando o fruto se destina ao mercado em fresco, uma vez que a castanha não sofre lesões que podem causar a desvalorização o produto.
Uso de luvas na colheita manual da castanha
Colheita mecânica
A colheita mecânica no castanheiro é relativamente recente, surgindo a partir da adaptação das máquinas usadas na colheita da noz e da avelã, com algumas alterações para se conseguir separar as castanhas dos ouriços.
Porém, existem ainda alguns problemas: desde a grande dimensão das máquinas até ao dispositivo de separação das castanhas, que, por ser um pouco abrasivo, provoca lesões no epicarpo do fruto (casca externa), tirando-lhe algum brilho e provocando riscos e manchas.
Para a mecanização desta operação cultural, os soutos devem ser grandes, planos e com compasso apropriado, permitindo a circulação dos equipamentos. O solo deve estar o mais limpo possível, livre de pedras soltas e outros objetos. A colheita mecânica não é viável se o souto for tratado de forma tradicional, isto é, sujeito a lavouras para o controlo de infestantes. Estas operações devem ser substituídas pela utilização de destroçadoras que façam apenas o corte e destruição do coberto vegetal sem afetarem a estrutura do solo.
Os sistemas de mecanização desenvolvidos até à atualidade têm por base a colheita por aspiração a partir do solo. São equipados com um ventilador centrífugo, responsável pela produção de vácuo que aspira os frutos da superfície do solo e os conduz para dispositivos de limpeza e separação da castanha dos ouriços. Estas máquinas podem ser de grandes dimensões (com mobilidade própria ou atreladas ao trator) ou de pequenas dimensões (adaptadas para transporte às costas de um operador).
Equipamentos utilizados na colheita mecânica
Máquinas de Aspiração:
- Automotrizes ou movidas pela força de um trator, funcionam com um potente sistema de aspiração de tubo flexível com uma ou duas bocas;
- Trata-se do primeiro sistema desenvolvido, sendo o seu modo de funcionamento muito semelhante aos aspiradores domésticos;
- Um operador segura a ponta do tubo direcionado para o solo, aspirando as castanhas, folhas e ouriços, que depois serão separados na própria máquina onde existe um desouriçador;
- Nestas máquinas, o comprimento dos tubos de aspiração é variável, tendo sido desenvolvidos sistemas com tubos de 25 m de comprimento, o que confere uma grande largura de trabalho;
- O seu rendimento varia entre 150 e 400 kg/hora, dependendo da potência da máquina, havendo também equipamentos deste tipo, com um tubo de aspiração de apenas 5-8 m de comprimento, com rendimento de 100-120 kg/hora.
Máquinas Automotrizes:
- Funcionam de uma forma muito semelhante às que varrem o lixo e as folhas nas ruas urbanas;
- Têm uma frente de trabalho com 1,5 a 3,5 m de largura;
- As castanhas, ouriços, folhas, pedras e outros objetos são aspirados para uma câmara onde é separado o material mais pesado que é deitado fora;
- O restante passa por um túnel sujeito a ventilação forçada para eliminar folhas e outras impurezas mais ligeiras, e separa as castanhas dos ouriços;
- Seguidamente, através de um crivo rotativo, são separadas todas as impurezas restantes de dimensões diferentes às das castanhas, sendo estas conduzidas para sacos ou contentores;
- O rendimento de trabalho varia entre 500 e 1600 kg/hora para as máquinas mais potentes, sendo a área mínima necessária para rentabilizar este equipamento de 10 ha;
- Estas máquinas permitem igualmente colher azeitona, avelã e noz, desde que seja substituído o crivo rotativo.
Máquinas Pneumáticas Portáteis:
- De pequenas dimensões, podem constituir uma opção interessante para pequenos produtores, dado o seu baixo custo e elevado rendimento, amortizando rapidamente o investimento (podem substituir o trabalho de 3 pessoas);
- Pode ser utilizado um soprador mecânico para juntar ouriços e castanhas, o que facilita a passagem desta e torna a apanha mais rápida;
- A limpeza e desouriçamento das castanhas pode realizar-se numa etapa posterior à colheita, quando esta ocorrer sem limpeza simultânea, existindo no mercado máquinas para o efeito e desouriçadoras estáticas de média dimensão;
- Esta opção pode justificar-se nos soutos instalados em zonas de acentuado declive.
Máquina de Aspiração, Máquina Automotriz e Máquina Pneumática Portátil. Fonte: CIMO – Centro de Investigação da Montanha et al. (2019). Manual de Boas Práticas do Castanheiro. Instituto Politécnico de Bragança
Redes Puxadas por Máquinas Desouriçadoras:
- Normalmente são usadas para complementar a apanha manual de castanhas, com a colocação prévia de redes no chão para apanhar e juntar os frutos;
- Depois, as redes são puxadas, levando os ouriços e castanhas para a desouriçadora.
Redes puxadas por Máquina Desouriçadora. Fonte: Laranjo, J. (2020). Colheita, Conservação, Comercialização e Boas Práticas. Curso de Cultura do Castanheiro (módulo 5). AgroB Business School EV.
Armazenamento e Conservação
Tradicionalmente, os frutos são armazenados num local fresco e arejado, de forma a não perderem demasiado peso e manterem as melhores caraterísticas até à comercialização, conseguindo conservar-se durante 1 a 2 meses. As pilhas de castanhas não devem ultrapassar os 25-30 cm de espessura. Devem ser mexidas diariamente, podendo até ser regadas uma vez por semana, no caso do local ser demasiado seco.
Também se pode recorrer a câmaras frigoríficas (de 200 a 600 ton), onde são armazenados contentores com capacidade para 400-600 kg de castanha, a uma temperatura entre os 0-2 ºC e humidade relativa de 90-95%, que permite a sua conservação durante cerca de 1 mês.
Outro processo de conservação de curta duração (1 mês a 18ºC) consiste na colocação dos sacos empilhados em paletes, que, depois de serem envolvidos em plástico de baixa permeabilidade, são submetidos à ação massiva de C02 (45-50%).
Atualmente, as câmaras frigoríficas com atmosfera controlada podem aumentar o período de conservação para 4-6 meses, dependendo da variedade e das condições climáticas aquando o crescimento dos frutos na árvore. Estas câmaras têm temperaturas próximas de 0 ºC, altas taxas de CO2 e baixas taxas de O2, baseando-se a conservação dos frutos no princípio da diminuição do metabolismo.
Castanha para consumo em fresco
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