O fogo é um consumidor ávido de matéria combustível inflamável, especialmente matéria vegetal. No entanto, o que é que torna uma planta inflamável?
O teor de água na planta é considerada a caraterística mais importante. Verifica-se que uma planta com baixa humidade que retém a matéria morta é mais suscetível a secar o material vivo aquando da sua combustão. O material vegetal vivo quanto mais seco estiver, mais suscetível se torna à combustão, estando especialmente suscetíveis as plantas cuja humidade varia entre os 50%-250%.
A própria composição e disposição das plantas é igualmente significativa no que toca ao seu índice de combustão. Plantas com folhas e caules finos são capazes de absorver calor com mais facilidade, sendo igualmente mais propícias à seca.
Figura: Agulhas de pinheiro, ervas, urzes e tojos são alguns exemplos de plantas com um nível elevado de combustão por terem uma relação área de superficial/peso muito elevada
A “manta morta”, camada de matéria orgânica à superfície que resulta da deposição de folhas, ramos, fungos e matéria animal, serve igualmente como uma forma de proliferação das chamas por estar, naturalmente, seca. Deste modo, é imperativo manter o chão limpo ou utilizar espécies cuja manta morta que produzem possa ser decomposta até ao período de maior risco de fogos, ou seja, árvores caducas que desfolhem no outono, permitindo que a maior parte das folhas seja decomposta até ao verão do ano seguinte.
Figura: A manta morta também é reconhecida como o primeiro horizonte do solo, designado por horizonte “O” sendo constituído por matéria orgânica animal e vegetal decomposta.
Segundo o ICNF, a constituição da floresta portuguesa é maioritariamente baseada em eucalipto (26%), sobreiro (22%) e pinheiro-bravo (22%). Repare que duas das espécies mais produzidas, o eucalipto e o pinheiro, são precisamente as que produzem um valor elevado de biomassa que fica acumulado no solo durante todo o ano, aumentando a matéria morta da floresta.
Figura: Distribuição das áreas totais por espécie florestal em Portugal Continental, 2015
Posto tudo isto, que soluções é que poderemos procurar para minimizar os riscos de incêndio face aos aumentos de temperatura?
A aposta na diversidade de espécies florestais aquando da sua reflorestação com a introdução de árvores “bombeiras” foram, em 2016 e 2017, uma das soluções apontadas pelo investigador responsável na UTAD, Paulo Fernandes.
Espécies consideradas árvores “bombeiras” oferecem resistência ao fogo, permitindo travar o seu avanço. Durante o verão, estas espécies encontram-se mais verdes, com folhagem abundante que cria microclimas florestais mais húmidos e abrigados do vento.
Estas espécies são caducas durante o outono-inverno, permitindo que haja pouco alimento para o fogo na altura de maior risco, pois não se verifica tanta acumulação de matéria morta.
Figura: Bidoeiros, Carvalhos e Castanheiros são as principais espécies de árvores “bombeiras” que podem ser utilizadas
No entanto, estas espécies são mais exigentes e requerem solos mais frescos com alguma qualidade, levando a que a sua plantação seja mais comum no norte e centro do país. Para o sul do país, poderá optar-se por plantas cuja regeneração seja fácil e rápida, como o sobreiro ou mesmo o medronheiro.
Figura: Apesar de serem árvores com menos resistência ao fogo, a sua capacidade auto regenerativa permite uma reflorestação rápida do local, mesmo sem a intervenção do Homem
É preciso lembrar que esta proposta, além de apenas funcionar a longo prazo, pois depende do período de tempo onde deverá ocorrer o crescimento das árvores, não é uma solução única. Deverá ser aliada à gestão de combustível das matas (limpeza periódica, criação de áreas de interrupção, etc) assim como ao poder económico dos donos das parcelas e da economia florestal.
Qual a sua opinião sobre a utilização de árvores “bombeiras”? É algo que já aplica nos seus terrenos?
Conte-nos a sua experiência nos comentários!
Referências bibliográficas
Departamento de Engenharia Florestal. (s.d.). A vegetação como combustível. 78. Lisboa: Instituto Superior de Agronomia Universidade Técnica de Lisboa.
Fernandes, P. (1 de outubro de 2016). Árvores bombeiras e a reflorestação. (N. M. Patrícia Lopes, Entrevistador)
Fernandes, P. (25 de setembro de 2016). O que são “árvores bombeiras” e como podem ajudar no combate aos incêndios? (G. Savers, Entrevistador)
Fernandes, P. (19 de junho de 2017). “Árvores bombeiras” também combatem os fogos. (F. Nunes, Entrevistador)
João Pinho, C. S. (2020). ÁRVORES INDÍGENAS EM PORTUGAL CONTINENTAL – Guia de utilização . Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P. .
Uva, J. S. (2015). 6º Inventário Florestal Nacional. Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
Autora do artigo:
Filipa Ferreira (Técnica e Investigadora Agrónoma)