As macieiras não são todas iguais | Cultiva-te | AgroB

As Macieiras não são Todas Iguais

Spread the love

 

HOJE EM DIA, EXISTEM NO MERCADO MAÇÃS PARA TODOS OS GOSTOS. Há um espetro de variedades que vão do mais ácido ao mais doce, do mais verde ao mais vermelho, do mais crocante ou mais brando. A soma destas características, juntamente com o paladar único que a variedade oferece, confere-lhe uma identidade única.

Contudo, parte da identidade da maçã está na maneira como esta se transforma ao longo do tempo que está armazenada à espera para ser consumida. Uma maçã pode ter ótimas características pouco depois de serem colhidas (e que o consumidor valoriza), mas que com o tempo, mesmo com boas condições de armazenamento, se degradam rapidamente. É o caso, por exemplo, da nossa querida variedade nacional, a Bravo de Esmolfe. Esta maçã pode ter uns tons florais no paladar incríveis, mas que podem ser facilmente ofuscados pela sua textura “farinhenta” se a maçã esperou demasiado tempo para ser consumida.

Ao escolher as variedades que queremos instalar no nosso pomar, temos de ter estas características em consideração. Para além de estar atentos às tendências do mercado, também devemos ter em atenção as características das próprias árvores, que vão exigir diferentes cuidados.

 

Figuras: Diferentes variedades de maçãs

 

O grande leque de variedades de macieiras existentes foi dividido em quatro grupos por um botânico francês chamado Lespinasse, em 1977, tendo em conta os hábitos de crescimento e frutificação das diferentes macieiras. Desde então, os fruticultores tomaram em atenção as diferenças entres as variedades que este descreveu, para tornarem os seus pomares mais produtivos. O hábito de crescimento é definido pela forma como a árvore tende a crescer naturalmente, levando-a a ter um aspeto próprio. O hábito de frutificação vai influenciar onde vamos encontrar os frutos na árvore. As macieiras do tipo I e IV apresentam comportamentos extremos um ao outro, enquanto que as do tipo II e III são intermédias aos anteriores. É de salientar que existem, ainda, variedades com comportamentos que pertencem a mais do que um tipo.

 

Figura: Ilustração dos quatro tipos de macieiras descritos por Lespinasse em 1977

 

As macieiras do tipo I têm geralmente poucas ramificações, com maior tendência a ramificarem mais próximo da base. Por consequência, os frutos vão se situar no interior da copa, em madeira mais antiga. Os ramos assumem uma orientação vertical mais próximo da periferia da copa. Neste tipo de macieiras, é comum verificar-se problemas de alternância de produção. As variedades mais características deste grupo são a Red Chief, Red SpurScarlett e Starkrimson.

À semelhança do tipo I, as variedades do tipo II também escasseiam frutos na periferia da copa. Algumas da variedades deste tipo são a Delicious, Richard, Starking, Top Red, Gloster, Reina de Reinetas e Bramley’s Seedling. Apesar de não pertencer a este grupo estritamente, a variedade Gala tende mais para um comportamento típico do tipo II.

Nas variedades integradas no tipo III, podemos indicar a Golden Delicious, Jonathan, Braburn, Egremont e Lord Lambourne. As ramificações são mais frequentes nestas árvores do que em árvores do tipo I. Os frutos tendem a encontrar-se mais afastados da estrutura permanente da árvore.

Nas variedades do tipo IV, as ramificações são abundantes mais próximo da extremidade dos lançamentos, de modo a que a fruta se encontre mais na periferia da copa, onde a madeira é mais recente. Este comportamento vai levar ao arqueamento dos ramos, devido ao peso dos frutos. Deste modo, estas árvores têm um aspeto prostrado. Neste tipo de macieiras, geralmente não se verifica problemas de alternância de produção. Variedades deste tipo são a Granny Smith, Rome Beauty, Tydemans Red ou Worcester Pearmain. O comportamento da variedade Fuji encaixa-se bem neste grupo, à exceção que carece de uma produção regular ao longo dos anos.

 

 

Figuras: Árvore com comportamento característico do tipo I (esquerda) e IV (direita). As macieiras do tipo I apresentam um porte ereto com os frutos próximos do eixo principal. Na macieira do tipo IV, o ramo encontra-se virado para o chão devido ao peso dos frutos, que são mais abundantes nas extremidades

 

Logo à partida, é preciso conhecer bem as características das árvores que plantamos, porque para conseguir colher o máximo de frutos de qualidade possíveis, temos de aplicar a poda mais adequada. A forma que vamos dar à árvore (sistema de condução), também deve ser bem adaptado ao seu comportamento. Por exemplo, se temos uma macieira do tipo IV, temos de ter a certeza que a estrutura que criamos é suficientemente forte para suportar o peso dos frutos, sem que os ramos quebrem. Na instalação de um pomar, planear de antemão estes pormenores é crucial. A poda da macieira não é universal a todas as variedades. É preciso conhecimento e um bom olho.

 

Autor do artigo:
Gonçalo Nascimento (Técnico e investigador agrónomo)