O kiwi, fruto amplamente apreciado pelo seu sabor e propriedades nutricionais, enfrenta desafios significativos na sua produção devido ao Cancro Bacteriano do Kiwi. Esta doença, causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. actinidiae (PSA), tem causado danos severos à cultura em várias partes do mundo, incluindo Portugal. Neste artigo, exploramos os sintomas, o ciclo biológico, os fatores de risco e as medidas de controlo associadas a esta ameaça fitossanitária.
O Cancro Bacteriano do Kiwi é uma doença que afeta espécies do género Actinidea, incluindo as variedades verde (Actinidea deliciosa) e amarela (Actinidea chinensis). Esta bactéria é altamente agressiva, especialmente em condições climáticas favoráveis (invernos frios e húmidos, seguidos de primaveras húmidas), podendo comprometer severamente a produtividade e a viabilidade económica da cultura.
Desde a sua identificação na Ásia, o Cancro Bacteriano do Kiwi tem-se disseminado rapidamente para outras regiões produtoras de kiwi, como a Europa, América do Sul e Nova Zelândia.
Estudos recentes indicam que Portugal, Itália e a Grécia, são zonas altamente suscetíveis para o desenvolvimento da doença devido às suas condições edafoclimáticas que, face às alterações climáticas, se traduzirão em invernos mais suaves, permitindo que os sintomas se tornem permanentes ao longo do ano (EPPO, 2011).
Os sintomas manifestam-se de forma distinta nas várias partes da planta:
Folhas
- Manchas hidrópicas angulares que evoluem para necroses avermelhadas;
- Halos cloróticos (amarelados) em torno das lesões;
- Necroses coalescentes que podem levar ao desprendimento das áreas afetadas.
Troncos e Ramos
- Cancros com exsudado bacteriano (uma substância viscosa e esbranquiçada);
- Necrose dos tecidos vasculares, resultando em interrupção do fluxo de nutrientes;
- Morte de ramos e, em casos graves, de toda a planta.
Flores e Frutos
- Necroses em gomos e pétalas durante a floração;
- Abortos florais que reduzem a formação de frutos;
- Frutos deformados e de menor qualidade.
A PSA é uma bactéria que sobrevive e se multiplica nos tecidos lenhosos, particularmente durante a primavera e o verão. Algumas cultivares, como o kiwi amarelo (Actinidea chinensis), são particularmente vulneráveis.
- Infeções Primárias: Ocorrem geralmente na primavera, quando a planta está em crescimento ativo.
- Disseminação: A bactéria propaga-se através da chuva, vento, insetos polinizadores e até por ferramentas de poda contaminadas.
- Condições Favoráveis:
- Temperaturas superiores a 15°C;
- Alta humidade relativa;
- Períodos de floração, devido à elevada suscetibilidade dos tecidos florais.
Estratégias de Prevenção e Controlo
O controlo do Cancro Bacteriano do Kiwi exige um foco integrado, incluindo práticas culturais, monitorização constante e, em alguns casos, aplicação de produtos fitossanitários.
Medidas Preventivas:
- Inspeção do Material Vegetal: Certificar-se de que as mudas e outros materiais vegetativos estão livres da doença;
- Higienização: Desinfetar regularmente ferramentas e equipamentos utilizados nas podas e colheitas;
- Controlo de Fatores Climáticos: Melhorar a drenagem e ventilação dos pomares para reduzir a humidade excessiva.
Monitorização e Diagnóstico:
- Realizar inspeções regulares em busca de sintomas iniciais;
- Usar testes laboratoriais para confirmar a presença da bactéria.
Controlo Químico e Biológico:
- Aplicar bactericidas específicos, como compostos à base de cobre, nos momentos críticos de suscetibilidade;
- Estudar o uso de agentes de biocontrolo para limitar a proliferação da bactéria.
Remoção de Plantas Infetadas:
- Eliminar plantas severamente afetadas para evitar a propagação da bactéria no pomar.
O Cancro Bacteriano do Kiwi pode reduzir drasticamente a produção e a qualidade dos frutos, aumentando os custos de produção e diminuindo a competitividade dos produtores no mercado global. Dada a importância económica do kiwi, especialmente em países como Portugal, é essencial adotar medidas preventivas e de controlo o mais cedo possível.