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Os Biofertilizantes e os Seus Microrganismos

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A atividade agrícola foi a base da evolução da humanidade como a conhecemos atualmente. Através da observação da natureza, o ser humano apercebeu-se que podia mimicar determinados fenómenos que facilitariam a sua procura por alimentos, preenchendo os valores nutritivos necessários do dia a dia, sem colocar em risco a sua existência.

 

Uma das observações realizadas permitiu perceber que aquando da aplicação de determinados materiais orgânicos junto às plantas em crescimento, estas desenvolviam-se num período mais curto de tempo e com maior produção. A aquisição destes conhecimentos permitiu o desenvolvimento de fertilizantes – corretivos e adubos, minerais ou orgânicos – como os conhecemos atualmente.

Após séculos a usar fertilizantes, o produtor apercebeu-se de que o solo não é apenas constituído por matéria orgânica e minerais, mas também por seres vivos que participam ativamente nas transformações do mesmo.

 

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Figura: Existem mais microrganismos numa pequena porção de solo do que humanos no planeta Terra

 

Com base nesse conhecimento, foram desenvolvidos o que hoje são identificados como biofertilizantes. Os conceito de biofertilizantes é variável, no entanto o presente Cultiva-te tem como objetivo referir as substâncias que contêm organismos vivos com capacidade de colonizar a planta e o solo que rodeia a raiz – rizosfera.

 

Neste sentido, é possível encontrar biofertilizantes no mercado compostos por vários tipos de microrganismos, nos quais se incluem:

 

Os fixadores de azoto

Os fixadores de azoto conhecidos ao momento são bactérias – Allorhizobium, Azorhizobium, Bradyrhizobium, Mesorhizobium, Sinorhizobium, Rhizobium – reconhecidas como rizóbios que atuam ao nível das raízes das plantas, nomeadamente das leguminosas, formando nódulos capazes de transformar o azoto atmosférico (N1) em amónia (NH3). Este processo leva ao aumento significativo de azoto no solo por ano, até aos 700Kg de azoto/ha/ano (ex. registado com luzerna), sendo mais eficaz na instalação de pastagens melhoradas.

A introdução de rizóbios e as práticas subjacentes, instalação de leguminosas, leva igualmente a melhorias significativas no solo, nomeadamente o melhoramento das condições físicas e químicas do solo, regulação da temperatura do solo, promoção de condições para o desenvolvimento de populações auxiliares e proteção da erosão.

 

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Figura: Pomar de limão e vinha com cobertura vegetal

 

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Figura: Nódulos criados por rizóbios onde é realizada a conversão do azoto atmosférico

 

Os solubilizadores de nutrientes

Tal como o nome indica, o papel destes organismos passa por transformar os nutrientes presentes no solo em formas indisponíveis à planta, solubilizando-as e/ou mobilizando-as de forma a ficarem disponíveis à planta. Alguns dos produtos no mercado permitem o tratamento dos seguintes nutrientes:

  • Potássio;
  • Fósforo.

Esta ação acorre através da libertação de ácidos orgânicos específicos e enzimas extracelulares que permitem a degradação dos nutrientes (ex. fósforo). É realizada por bactérias, sendo as mais conhecidas as do género Pseudomona spp., nomeadamente a P. putida e a P. fluorescens, assim como fungos micorrízicos.

 

BacteriaAlcaligenes sp., Aerobactor aerogenes, Achromobacter sp., Actinomadura oligospora, Agrobacterium sp., Azospirillum brasilense, Bacillus sp., Bacillus circulans, B.cereus, B.fusiformis, B. pumils, B. megaterium, B. mycoides, B. polymyxa, B. coagulans B,.chitinolyticus, B. subtilis, Bradyrhizobium sp., Brevibacterium sp., Citrobacter sp., Pseudomonas sp., P putida, P. striata, P. fluorescens, P. calcis, Flavobacterium sp., Nitrosomonas sp., Erwinia sp., Micrococcus sp., Escherichia intermedia, Enterobacter asburiae, Serratia phosphoticum, Nitrobacter sp., Thiobacillus ferroxidans, T. thioxidans, Rhizobium meliloti, Xanthomonas sp.
FungiAspergillus awamori, A. niger, A. tereus, A. flavus, A. nidulans, A. foetidus, A. wentii. Fusarium oxysporum, Alternaria teneius, Achrothcium sp. Penicillium digitatum, P lilacinium, P balaji, P. funicolosum, Cephalosporium sp. Cladosprium sp., Curvularia lunata, Cunnighamella, Candida sp., Chaetomium globosum, Humicola inslens, Humicola lanuginosa, Helminthosporium sp., Paecilomyces fusisporous, Pythium sp., Phoma sp., Populospora mytilina, Myrothecium roridum, Morteirella sp., Micromonospora sp., Oideodendron sp., Rhizoctonia solani, Rhizopus sp., Mucor sp., Trichoderma viridae, Torula thermophila, Schwanniomyces occidentalis, Sclerotium rolfsii.
ActinomycetesActinomyces,, Streptomyces.
CyanobacteriaAnabena sp., Calothrix braunii, Nostoc sp., Scytonema sp.,
VAMGlomus fasciculatum.
Tabela: Biodiversidade de microrganismos solubilizadores de fósforo. Estes microrganismos constituem cerca de 0,2% a 0,8% da população do solo e funcionam melhor aquando da presença de plantas, permitindo uma relação simbiótica

 

As micorrizas

Ou fungos micorrízicos, são microrganismos capazes de criar relações simbióticas com cerca de 90% das espécies vegetais conhecidas.

A sua relação com as plantas baseia-se na criação de hifas que vão funcionar como um alongamento das raízes, permitindo uma maior e melhor absorção de água e nutrientes. Este processo permite que a planta seja capaz de aumentar a área da rizosfera, facultando uma vantagem em relação a infestantes, aumentando a resistência a condições de stress, nomeadamente a seca ou toxicidade de metais pesados.

Atualmente, os produtos comerciais focam-se na implementação de uma boa população de micorrizas à instalação, acrescentando inóculo à instalação, junto da raiz da planta, como método mais eficiente. Em explorações já instaladas, existe a hipótese de acrescentar micorrizas através do sistema de rega, apesar de não ser tão eficiente como a primeira.

 

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O objetivo na aplicação destes produtos não será o de facultar os nutrientes à planta, mas sim trabalhar no sentido de melhorar a disponibilidade de determinados nutrientes e a capacidade da planta de os absorver naturalmente, melhorando desta forma a saúde dos solos e das plantas, podendo inclusive levar à diminuição da necessidade de inputs por parte do produtor. Por este motivo, crê-se que a utilização destes produtos seja uma das ferramentas que virão a tornar-se essenciais face às dificuldades levantadas pelas alterações climáticas.

 

Já tinha ouvido este termo? Que biofertilizantes usa na sua exploração? Considera que podem ser uma solução a implementar na agricultura?

Dê-nos a sua opinião nos comentários!

 

Referências bibliográficas

Ângelo Rodrigues, C. M. (2021). Os fungos micorrízicos comerciais na agricultura. Vida Rural.

Ângelo Rodrigues, C. M. (2021). Pode a Agricultura tirar partido dos biofertilizantes? Agrotec.

Márcia de Castro Silva, H. M. (2022). BIOFERTILIZAÇÃO E BIOCONTROLO EM MONTADO – MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS. Vida Rural, 62-67.

Seema B Sharma, R. Z. (2013). Phosphate solubilizing microbes: sustainable approach for managing phosphorus deficiency in agricultural soils. SpringerPlus, 1-14.

 

Autora do artigo:
Filipa Ferreira (Técnica e Investigadora Agrónoma)