Panorama da floresta em Portugal
O território português é caracterizado por uma forte presença de áreas florestais, ocupando 36% da superfície total, o que corresponde a 3,3 milhões de hectares. As florestas, juntamente com matos e áreas improdutivas, constituem cerca de 70% do uso do solo. Esta predominância florestal desempenha um papel fundamental na conservação da biodiversidade, na captura de carbono e na manutenção dos serviços ecossistémicos.
Distribuição das Formações Florestais:
- Eucalipto: Representa 26% da área florestal, sendo amplamente utilizado na indústria da celulose, mas suscita preocupações ao nível da sustentabilidade ecológica e gestão de recursos hídricos.
- Pinheiro-bravo: Ocupa 22% do território florestal, uma das espécies autóctones mais relevantes, com grande impacto na economia florestal nacional.
- Sobreiro e Azinheira: As espécies de carvalhos (sobreiros, azinheiras e outros), que juntas correspondem a 36% da área florestal do Continente, são de grande importância ecológica e económica, sobretudo o sobreiro devido à produção de cortiça.
- Nos Açores, predominam espécies endémicas, como o incenso (24 kha) e o cedro (22 kha), enquanto na Madeira destaca-se a floresta de laurissilva, um património natural de valor ecológico elevado, ocupando 15 kha.
Ao longo do século XX, verificou-se uma expansão significativa das áreas florestais, particularmente com o crescimento de pinhais (pinheiro-bravo) até ao seu pico em 1980. Contudo, a partir da década de 1990, esta tendência inverteu-se, acompanhada por uma estabilização da superfície florestal e um aumento das áreas de matos e pastagens espontâneas. De notar que o rápido aumento do eucalipto, iniciado na década de 1960, consolidou-se como uma das mudanças mais significativas no uso do solo, com implicações na gestão de incêndios e na biodiversidade.
A gestão florestal em Portugal é amplamente dominada por proprietários privados, que controlam 91% das áreas florestais. Apenas 3% das florestas estão sob domínio público (Estado e autarquias), enquanto 6% são geridas por comunidades locais sob o regime de baldios, terrenos comunitários que desempenham um papel vital na preservação e uso sustentável dos recursos naturais.
Cerca de 46% das áreas florestais encontram-se por regularizar no cadastro predial, criando desafios à gestão eficiente e ao ordenamento do território. As falhas no sistema cadastral dificultam a aplicação de planos de gestão e de medidas de prevenção contra incêndios, bem como a implementação de políticas florestais de longo prazo.
O ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) tem sob sua responsabilidade a gestão de mais de 65 mil hectares de terrenos públicos, além de garantir a supervisão de cerca de 300 mil hectares de baldios submetidos ao regime florestal. A implementação de um sistema de informação cadastral simplificada está em curso, com o objetivo de colmatar as lacunas no cadastro e otimizar a gestão sustentável do território.
Principais Desafios e Oportunidades:
- Sustentabilidade das plantações de eucalipto: Embora seja uma importante fonte económica, há necessidade de promover práticas de gestão florestal sustentável, com enfoque na diversidade ecológica e na resiliência às alterações climáticas e incêndios.
- Fragmentação da propriedade: A elevada percentagem de propriedades privadas e os cadastros prediais não regularizados impedem a implementação de políticas integradas de gestão e conservação.
- Regime de baldios: Este sistema de gestão comunitária é uma oportunidade para envolver as comunidades locais na gestão sustentável dos recursos florestais, promovendo práticas agroflorestais e de conservação.
Área florestal ardida nos últimos 6 anos
2019
Área florestal ardida:
- 21 432 hectares.
Principais espécies ardidas:
- 9 227 ha de eucalipto;
- 7 391 ha de pinheiro-bravo;
- 1 555 ha de sobreiro;
- 703 ha de carvalhos;
- 666 ha de azinheira.
Distritos mais afetados:
- Castelo branco: 8 512 hectares;
- Aveiro: 2 733 hectares;
- Porto: 1 242 hectares.
Principais causas:
- Intencional: 12 106 hectares (56,49%);
- Negligente: 5 752 hectares (26,84%);
- Desconhecida: 2 670 hectares (12,46%).
Com um total de 21.432 hectares ardidos, este ano destacou-se pela combinação de espécies afetadas, com maior preponderância do eucalipto e pinheiro-bravo. Em 2019, a floresta portuguesa era composta principalmente por Eucalipto (26%), Pinheiro-bravo (22%) e Sobreiro (23%).
2020
Área florestal ardida:
- 31 725 hectares.
Principais espécies ardidas:
- 19 863 ha de pinheiro-bravo;
- 7 845 ha de eucalipto;
- 1 443 ha de sobreiro;
- 251 ha de carvalhos;
- 31 ha de azinheira.
Distritos mais afetados:
- Castelo branco: 18 496 hectares;
- Viseu: 2 543 hectares;
- Faro: 2 052 hectares.
Principais causas:
- Intencional: 19 252 hectares (60,69%);
- Desconhecida: 6 800 hectares (21,44%);
- Negligente: 4 143 hectares (13,06%).
2021
Área florestal ardida:
- 8.158 hectares.
Principais espécies ardidas:
- 1 366 ha de pinheiro-bravo;
- 2 879 ha de eucalipto;
- 812 ha de sobreiro;
- 185 ha de carvalhos;
- 738 ha de azinheira.
Distritos mais afetados:
- Faro: 3 207 hectares;
- Beja: 1 111 hectares;
- Braga: 679 hectares.
Principais causas:
- Intencional: 4 055 hectares (49,71%);
- Negligência: 3 329 (40,80%);
- Desconhecida: 697 (8,54%).
2022
Área florestal ardida:
- 55 309 hectares.
Principais espécies ardidas:
- 23 512 ha de pinheiro-bravo;
- 16 845 ha de eucalipto;
- 631 ha de sobreiro;
- 2 209 ha de carvalhos;
- 197 ha de azinheira.
Distritos mais afetados:
- Castelo Branco: 14 220 hectares;
- Vila Real: 10 709 hectares;
- Leiria: 6 346 hectares.
Principais causas:
- Intencional: 39 120 hectares (70,73%);
- Negligência: 7 303 hectares (13,20%);
- Desconhecida: 4 364 hectares (7,89%).
2023
Área florestal ardida:
- 19.423 hectares.
Principais espécies ardidas:
- 10.422 ha de eucalipto;
- 6 237 ha de pinheiro-bravo;
- 592 ha de sobreiro;
- 237 ha de carvalhos;
- 276 ha de azinheira.
Distritos mais afetados:
- Beja: 5.559 hectares;
- Castelo Branco: 5.324 hectares;
- Viseu: 1.254 hectares.
Principais causas:
- Intencional: 9.275 hectares (47,75%);
- Causa desconhecida: 6.692 hectares (34,45%);
- Negligência: 3268 (16,82%).
2024
Área total ardida:
- 144 649 hectares (até ao momento de consulta 20/9/2024).
Em 2024, até 31 de agosto, a área total de incêndios rurais era de 4 457 hectares (sendo 3 655 ha referentes a povoamentos florestais). Até ao final de agosto, como indicado no ICNF, seria o ano com menos incêndios desde 2014. No entanto, os acontecimentos recentes levaram a que este ano passasse a ser o terceiro pior da década e o pior desde 2017, ano da tragédia de Pedrógão Grande.
Até ao momento, 2024 conta com 146 649 hectares de área ardida (incluindo povoamentos florestais, matos e agricultura) (Fonte: Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais).
As áreas mais afetadas foram Alto Tâmega, Ave, Região de Aveiro, Tâmega e Sousa e Viseu Dão Lafões.
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Fontes:
ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.
Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais.