A OLIVEIRA SURGE NA ZONA DO MEDITERRÂNEO e rapidamente toma uma importância social e económica que remonta ao século VI, altura em que se crê ter ocorrido a sua domesticação. O azeite, óleo produzido do fruto da oliveira, teria variados usos que iam desde a alimentação até à fonte de energia para iluminação das casas, marcando a sua presença na arte e religião.
Atualmente, este continua a ser um dos produtos mais produzidos mundialmente. Parte deve-se devido à robustez da própria árvore: a oliveira.
Figura: A oliveira é uma árvore rústica que suporta climas mais agrestes, falta de água e solos menos férteis – as condições típicas do clima e zona mediterrânea
Em Portugal, durante muitos anos, o olival foi conduzido como uma cultura dispersa, normalmente avistada nas bordaduras de outras culturas principais. Esta é uma realidade que ainda hoje é possível observar. Na altura, a qualidade do azeite não seria uma prioridade, levando ao abandono da cultura. Não existiam grandes conhecimentos para melhorar o processo do azeite, limitando a utilização deste à mistura nas confeções ou à iluminação.
Foi Alexandre Herculano, em 1850 que promoveu a revolução na olivicultura.
O seu trabalho focou-se no melhoramento das práticas realizadas em lagar, desde à colheita até à extradição do azeite.
Os frutos passam a estar menos tempo entre a colheita e o seu processamento, evita-se fazer um entulhamento muito grande de frutos e o mesmo é muito curto. Existem igualmente alterações consideráveis nas práticas e material do lagar, tais como a substituição das vasilhas de cerâmica e retirada da prática de escaldão e grandes pressões na moenda e prensagem.
Posteriormente, na segunda metade do século XIX, surge o interesse em colocar o olival como cultura principal, com acesso a plantas de viveiro e terrenos mais férteis. Ao mesmo tempo, surge a necessidade de inovar o azeite para consumo alimentar em fresco, graças ao surgimento de novas alternativas para o seu uso em máquinas iluminação.Esta alteração promoveu cuidados até à data inexistentes, como a limpeza dos lagares e reprovação do entulhamento.
Figura: “Azeite Herculano” um dos primeiros azeites portugueses, dedicado completamente à qualidade alimentar, tendo ganho os primeiros prémios internacionais dos azeites portugueses (fonte: Santos)
No início do século XX a olivicultura em Portugal fica estagnada a nível de avanços tecnológicos. O mercado de azeite, ainda de fraca qualidade e com grandes alternâncias anuais na produção, vê-se obrigado a confrontar outros óleos no mercado, mais baratos e mais estáveis a nível de oferta.
Surge uma organização de mercado que tem como objetivos a fixação do preço do azeite, o que permite a expansão da cultura pelo país, tornando a olivicultura uma das culturas mais importantes à data.
Em 1960, dá-se um conjunto de fatores que leva à crise na olivicultura…
O aumento do consumo de outros óleos vegetais associado ao êxodo rural que se fez sentir na época, levou a uma produção mais cara num mercado cada vez mais magro. Esta crise levou a uma diminuição drástica de área na ordem dos 40% e obrigou os produtores que sobraram a apostar na mecanização como forma de colmatar a falta e o valor económico da mão-de-obra.
É nesta altura que são substituídos os animais, o que por sua vez, retirou uma das maiores fontes de fertilização natural no pomar – substituída eventualmente por fertilizantes químicos. Começava então o agravamento de problemas de solos, como a erosão, falta de matéria orgânica e menor capacidade de retenção de água no solo.
Nos anos 90 a ciência e a OMS destacam a importância do azeite como um componente rico, nutritivo e saudável, devendo este ser preferido aos restantes óleos vegetais.
Esta informação causa um boom na procura do azeite, levando a que o setor não tivesse capacidade de resposta. Surge assim um mercado deficiente no produto que obriga à rápida instalação de olivais e ferramentas que permitam um maior rendimento e qualidade do azeite num menor período de tempo. As tecnologias desenvolvidas nesta altura são utilizadas atualmente, tendo-se tornado a norma do setor.
Figura: A instalação de olivais no terreno íngreme português associado a práticas como mobilizações excessivas do solo, levou a problemas graves de erosão
Ao mesmo tempo, surgem as certificações DOP – Denominação de Origem Protegida – que vem desta forma diferenciar e proteger a exclusividade de azeites com base nas suas caraterísticas únicas, adquiridas graças à localização, solo e clima únicos.
Figura: Cada azeite DOP tem a sua caraterística única, não podendo ser reproduzido em mais nenhum local do mundo (Casa do azeite, 2021)
Atualmente, a realidade da olivicultura é uma consequência da procura iniciada nos anos 90.
Existem novos olivais, mais intensivos que procuram maximizar o rendimento por hectare e minimizar a necessidade de mão-de-obra, recorrendo ao máximo a operações mecanizadas, como a poda e a colheita. O controlo técnico realizado neste tipo de explorações é superior de forma a procurar compensar o impacto ambiental, causado pela maior necessidade de aplicação de produtos fitossanitários.
Surgem igualmente novas variedades internacionais que visam a resistência às principais doenças do olival, o aumento do rendimento e o teor de óleo para a produção de azeite.
Figura: A instalação de olivais no terreno íngreme português associado a práticas como mobilizações excessivas do solo, levou a problemas graves de erosão
Portugal continua a ser um dos países mais reconhecidos no exterior pelo azeite, mantendo assim a procura do mesmo.
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Autora do artigo:
Filipa Ferreira (Técnica e Investigadora Agrónoma)
Referências:
Agronegócios (2018). Alentejo: um olival que resiste. Agronegócios.
Casa do azeite (31 de maio de 2021). Denominações de origem protegida. Obtido de Casa do azeite: http://www.casadoazeite.pt/Azeite/Denomina%C3%A7%C3%B5es-de-origem-protegida
Gabinete de Planeamento e Políticas (2007). Olivicultura – Diagnóstico sectorial. MADRP.
Jorge Bohm, C. G (s.d.). O Grande Livro da Oliveira e do Azeite – Portugal Oleícola. DINALIVRO.
Reis, P. (2014). O Olival em Portugal dinâmicas, tecnologias e relação com o desenvolvimento rural. Lisboa: Animar.
Santos, A. S. (s.d.). Um Líder Rigoroso. (M. Gusmão, Entrevistador)