O solo é um dos fatores que compõem o terroir que, por sua vez, diz respeito à influência que o local onde a videira se desenvolve tem no vinho produzido.
A evolução dos conhecimentos relacionados com a vitivinicultura e a procura de práticas e fatores que influenciem positivamente a qualidade do vinho, têm levado à compreensão das condições que otimizem a obtenção de vinhos de qualidade superior.
Apesar de vários estudos (Trégoat, 2003, Renouf et al., 2010, Bramley et al., 2011 e van Leeuwen & Rességuir, 2018) demonstrarem que o tipo de solo tem influência na qualidade dos vinhos obtidos, ainda não são claros os mecanismos envolvidos e como estes afetam a qualidade do produto final. Apenas se sabe que o solo influencia diretamente a videira, já que tem a capacidade de interferir na fenologia e desenvolvimento da videira ao longo do ciclo.
Caso se pense no solo como um fator isolado, é fácil compreender de que forma este pode influenciar a fisiologia da videira e a composição das uvas através da variação de parâmetros como a temperatura, disponibilidade de água e nutrientes.
É conhecido que a temperatura do solo influencia a fenologia das videiras, no sentido em que as uvas amadurecem mais cedo em solos quentes. Através de estudos conduzidos nesta área, sabe-se que solos grosseiros são, por norma, mais quentes. Em contrapartida, solos argilosos apresentam-se, de uma forma geral, mais frescos.
Também é estudada a influência que o défice de água tem sobre a qualidade das uvas, especialmente em uvas tintas. Videiras sujeitas a um stress hídrico controlado produzem bagos de menor dimensão e, consequentemente, mais concentrados em termos de polifenóis, com particular destaque para as antocianinas nos vinhos tintos. Por sua vez, no vinho branco, a indução de stress hídrico moderado também conduz à obtenção de vinhos de qualidade superior.
A disponibilidade de nutrientes, e com destaque para o azoto, também tem impacto na qualidade dos vinhos obtidos. A quantidade de azoto disponível faz variar a qualidade dos vinhos brancos e tintos em direções opostas. Isto é, um reduzido teor de azoto faz aumentar o teor de compostos fenólicos na película, o que é particularmente benéfico nos vinhos tintos, porém, pode influenciar negativamente alguns aromas no caso dos vinhos brancos.
Atualmente, de forma a permitir uma mais fácil gestão da expressão do terroir, através de sondas e sensores, é possível criar mapas com o registo da variação de cada um dos parâmetros mencionados. Através da ponderação de cada um destes parâmetros, é possível ajustar a escolha de castas, porta-enxertos e práticas culturais que mais se adequem a estas variações com o intuito de expressar da forma mais benéfica possível o terroir.
No sentido de expressar o terroir de uma região, Leeuwen et al., 2018 deixam algumas recomendações:
- Adequar a escolha do porta-enxerto ao tipo de solo da parcela. Em solos pobres em fertilidade, é recomendada a utilização de porta-enxertos vigorosos, enquanto em solos ricos e férteis é recomendada a utilização de porta-enxertos pouco vigorosos;
- Quanto à temperatura, em solos mais frescos cuja a maturação das uvas é mais lenta em comparação a solos mais quentes, recomenda-se optar por castas de maturação precoce. Em solos quentes, tendencialmente, solos mais grosseiros, as uvas resultantes podem apresentar um teor de açúcar excessivo, um teor reduzido de ácidos orgânicos e aromas indesejáveis. Para evitar estas situações, recomenda-se a instalação de castas de amadurecimento tardio em solos quentes;
- Quanto à disponibilidade de água e azoto no solo, como referido, a qualidade dos vinhos tintos beneficia de um stress hídrico e reduzido teor de azoto. Em contrapartida, castas brancas devem ser instaladas em solos com disponibilidade de água e azoto média a elevada;
- O sistema de condução, nomeadamente, a densidade de plantação e forma de condução devem ser adaptadas à disponibilidade de água no solo. Em solos com reduzida disponibilidade e capacidade de retenção de água, é aconselhada uma menor densidade de plantação e/ou optar pela condução das plantas em vaso. Ao passo que uma elevada densidade de plantação se adequa a solos com capacidade de retenção de água considerada média a elevada;
- A disponibilidade de azoto pode ser regulada através de fertilizações azotadas. É de salientar que a gestão do solo com recurso a culturas de cobertura pode, em algumas circunstâncias, competir pelo azoto com as videiras.
Em jeito de conclusão, o conhecimento das caraterísticas do solo da parcela onde se insere a vinha e a influência que estas condições têm sobre a videira e as uvas permite a adoção de cuidados à instalação e práticas ao longo do ciclo de forma a maximizar a expressão do terroir no vinho.
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Referências bibliográficas
Van Leeuwen, C., Roby, J.-P. & Rességuier, L. 2018. Soil-related terroir factors: a review. OENO One. 52 (2).
Trégoat, O. 2003. Caractérisation du régime hydrique et du statut azoté de la vigne par des indicateurs physiologiques dans une étude de terroir au sein de huit grands crus de Bordeaux. Influence sur le comportement de la vigne et la maturation du raisin. Diplôme d’Etudes et de Recherches de l’Université Bordeaux 2.
Renouf, V., Trégoat, O., Roby J.-P. & van Leeuwen C., 2010. Soils, rootstocks and grapevine varieties in prestigious Bordeaux vineyards and their impact on yield and quality. J. Int. Sci. Vigne Vin. 44(3). pp. 127-134.
van Leeuwen, C. & Rességuier, L. (2018). Major soil-related factors in terroir and vineyard siting. Elements. 14(3). pp. 159–165.
Bramley, R., Ouzman, J., & Boss, P. (2011). Variation in vine vigour, grape yield and vineyard soils and topography as indicators of variation in the chemical composition of grapes, wine and wine sensory attributes. Austral. J. Grape Wine. 17(2).
Autora do artigo:
Susana Moreira (Técnica e Investigadora Agrónoma)