A FIGUEIRA FOI DAS PRIMEIRAS ESPÉCIES A SER CULTIVADA PELO SER HUMANO. Devido à forte disseminação desta cultura pelo mundo, é difícil atribuir-lhe uma região endémica. Contudo, acredita-se que é originária da bacia mediterrânica e da Ásia Ocidental.
Deste modo, a figueira está bem adaptada a climas quentes e secos, devendo-se em grande parte ao seu sistema radicular “agressivo”. De um modo geral, o clima português é ideal para a figueira, em especial as regiões mais a sul. O elevado número de dias de sol no nosso país permite-nos obter figos em abundância, mas também com ótimo sabor e cor. Os nossos verões com precipitações baixas também previne o fendilhamento dos frutos.
Figuras: Diferentes variedades de figos
O cultivo do figo é uma prática anciã no nosso país, tendo sido no passado o maior centro de produção localizado no Algarve. O estado da indústria em Portugal no ano 1901 está bem referenciado por Gustav Eisen num documento emitido pelo governo estadunidense. O autor afirma que “poucos países no mundo são tão favorecidos em relação às condições climáticas [para a produção de figos] como esta famosa província [Algarve]”. Também faz referência ao Cerro de São Miguel, localizado nesta região, como uma elevação onde os seus terrenos dão figos de elevadíssima qualidade, sem grandes necessidades de manutenção. Não será por acaso que, hoje em dia, esta elevação de 411 metros também é conhecida como “Monte Figo”.
Apesar de neste documento se constatar o sucesso da indústria de figos em Portugal, também já se previa o seu declínio: “Não muitos anos atrás, os figos de Portugal eram os mais famosos no mundo ocidental (…) mas foram afastados do mercado internacional, ofuscados pelos figos de qualidade superior e mais bem manuseados de Smyrna [região na Turquia]”.
O abandono desta cultura em grande escala não foi então causado pelo abandono rural como tantas outras, mas sim bem mais cedo do que isso, devido à falta de cuidados na pós-colheita.
Os anos foram-se passando e a situação não se reverteu. Há 100 anos, a dinâmica neste setor estava a par do vitivinícola ou do azeite. Contudo só estes últimos dois se conseguiram manter ou recuperar ao longo dos anos. Apesar de ainda haver alguns produtores especializados em figos, o que nos resta deste património é uma multitude de variedades de figos portuguesas e inúmeras figueiras espalhadas pelos quintais, ruas e campos do nosso país.
Figura: Figueiras na freguesia de Martim Longo, no Algarve
Existem ainda algumas pessoas com elevado conhecimento técnico, essencial para produzir figos de qualidade, mas são cada vez menos. A figueira é uma árvore muito especial, com um comportamento muito diferente das restantes.
Sabia que uma figueira pode dar até duas colheitas por ano? E que existem três tipos de figueiras, consoante as suas necessidades de polinização? As diferenças em características como estas vão influenciar a forma como gerimos o nosso pomar. Conhecer bem a figueira é essencial se queremos produzir bons figos, sejam secos ou frescos. Mas também devemos conhecer bem as opções que temos ao nosso dispor para chegar a esse fim (fertilização, rega, poda).
Figura: Para facilitar as operações de colheita, os ramos da figueira devem estar acessíveis a partir do chão
Sendo a poda de árvores de fruto uma das operações que representa mais gastos no nosso pomar, é extremamente importante executá-la de forma correta e bem adaptada às nossas condições.
A poda tem vindo a evoluir de forma a que haja o máximo de produção de figos com qualidade com o mínimo de mão de obra possível. Novas técnicas foram surgindo para que a árvore se mantenha equilibrada entre a produção de novos lançamentos e a produção de frutos. Antigamente, a poda era feita com base na estética da árvore. Nos últimos anos, tem se vindo a verificar que uma árvore produtiva não tem de ser necessariamente bonita aos nossos olhos. Criou-se um compromisso entre o fruticultor e o crescimento natural da árvore. Uma árvore muito “contrariada” na forma como cresce e emite lançamentos vai exigir muita mais mão de obra no futuro.
Figura: Copa de figueira desequilibrada – o lado esquerdo com ramos mais verticais devido à direção dos ventos e no lado direito com ramos mais horizontais devido à maior exposição solar
Figura: As operações de poda permitirão renovar a copa da figueira, fazendo com que a figueira tenha mais vigor e obtenha frutos de maior qualidade
No último século, apesar da produção de imensas culturas ter diminuído em Portugal, descobertas foram feitas e novas tecnologias foram desenvolvidas ao nível da poda, mas também em outras práticas, facilitando o cultivo. Podemos aproveitá-las para “reanimar” o setor do figo em Portugal, já que clima e tradição não nos falta.
Figura: Interior de um figo
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Autor do artigo:
Gonçalo Nascimento (Técnico e investigador agrónomo)